segunda-feira

25 de novembro - Dia internacional da não violência contra a Mulher


Eu sempre me choco quando sei uma história de violência contra a mulher. Mas claro, me choco ainda mais quando ouço que "mulher gosta de apanhar", que um "tapinha de correção não dói", que a "mulher procurou isso", que a "mulher mereceu".
Essas frases devem machucar tanto quanto a porrada do agressor e fazem muitas mulheres desistirem de denunciar.
Todo mundo quer saber do contexto em casos de violência contra a mulher, e sabem porque? Não é pra ajudá-la nem pra defendê-la, mas sim pra achar uma brecha em que o agressor possa sair como vítima.
E quando falo em violência contra a mulher não é só a doméstica, quando elas apanham do marido. Mas também a violência sexual, violência obstétrica, violência psicológica e tantas outras formas.


Sabe, a maioria das mulheres tem uma história de horror pra contar. Muitas delas superaram, muitas fingem que superaram, muitas estão superando com a ajuda de terapia mas muitas nem mesmo contam para seus terapeutas.
Esses dias achei um site terrível, onde mulheres contam as aflições que passaram. A maioria dizia que sentia alívio ao contar, mesmo que pela internet pois era um fardo grande carregar aquilo.
E depois que me emocionei com os relatos, fiquei com uma sensação de impotência. Como eu adoraria ajudar essas mulheres. A única coisa que posso fazer é comentar alguma coisa lá, mas não sei se é o bastante. Queria também incentivar todas as meninas que passaram por algo e mantem isso em segredo, a desabafarem lá ou com alguém de confiança. Aliás, muitas desabafaram com mãe e pai, e esses ainda ficaram do lado dos agressores por incrível que pareça.
Filhas que apanhavam e a mãe dizia que casamento era assim mesmo. Filhas que foram abusadas por tios, primos e irmãos, e o pai dizia que não tinha sido nada. Filhas que foram abusadas pelo próprio pai e não podiam fazer nada, nem mesmo contar.
As frases desses agressores são sempre as mesmas: Você apanhou porque me magoou, mas nunca mais farei isso, eu juro. Se você contar pra alguém, eu te mato. Você sabe que não vão acreditar em você. Isso será um segredo nosso. Você é um lixo. Você é uma porca gorda...
E não pensem que um abuso sexual acontece apenas com penetração. Toques, palavras .. são também considerados abusos e também ferem uma pessoa.


"Uma mulher não se veste de maneira sexy se não estiver querendo alguma coisa"


"Uma mulher deve sempre satisfazer seu marido"


"Uma mulher que não quer, deve dizê-lo claramente"

Mães e pais devem proteger seus filhos com unhas e dentes e desconfiar de todos. Não existem pessoas de confiança. Tive muita sorte em ter pais super protetores. Em ter uma mãe que falava desses assuntos comigo e me alertava. E sabe, não foi exagero deles. Talvez se eles não fossem assim, algo ruim tivesse acontecido comigo.

Ainda tem a violência contra a mulher vai até na hora de seu parto, que deveria ser um momento lindo. As mulheres são obrigadas a ter cesáreas com as desculpas mais esfarrapadas e as que tem o parto normal, tem seu períneo cortado (episiotomia) de forma desnecessária e a maioria das vezes sem permissão.


“Essa é a episio que tive! uma marca que carrego não só no corpo, que me gera vergonha! não só pela marca mas pela minha vontade não ter sido atendida, por eu ter sido violentada!!!”
(Raquel B. Gonçalves)

Partos normais de cócoras ajudam mais na hora do bebê sair, sendo mais confortável para as mulheres. Porém geralmente é na cama, com as pernas pra cima. Assim o médico consigue ver sem problemas. Acontece que pode gerar problemas e dor pra mulher e problemas respiratórios para os bebês pois o útero pode apertá-lo.
Alguns relatos de mães são muito tristes. Na hora do parto, médicxs e enfermeirxs mandam a mulher calar a boca, chamam de exagerada, etc. Frases como: “não chora que ano que vem você está aqui de novo”; “na hora de fazer não chorou, não chamou a mamãe”; “se gritar eu paro e não vou te atender”; “se ficar gritando vai fazer mal pro neném, vai nascer surdo” são ditas para 25% das mulheres em trabalho de parto no Brasil. Isso mesmo, 1 em cada 4 mulheres sofrem algum abuso na hora "mais feliz" de suas vidas.
É violência obstétrica a imposição do jejum durante o trabalho de parto, ou a realização de lavagem intestinal. É violência obstétrica a proibição da presença do acompanhante durante todo o processo obstétrico. É violência obstétrica a não oferta de métodos não farmacológicos para controle de dor, ou não existir a analgesia farmacológica, quando solicitada. É violência obstétrica a submissão a exames desnecessários. É violência obstétrica a obrigatoriedade do parto em posição supina. É violência obstétrica a realização da episiotomia desnecessária. Constituem violência obstétrica a separação mãe e filho imediatamente após o nascimento, ou os procedimentos desnecessários impostos ao recém nascido. É violência obstétrica a agressão verbal ou física ou a violência psicológica.
Doulas em alguns hospitais são "proibidas" e o parto humanizado criticado. O corpo da mulher foi feito para parir, e até isso querem tirar dela.



E nem vou comentar muito sobre a violência que há quando uma mulher quer fazer aborto. Ela é condenada por todos, mesmo que ela esteja pensando em primeiro lugar na vida ruim que a criança vai ter se nascer. Mães viciadas em drogas, mães casadas com monstros, mães adolescentes e sem condições e até mesmo as estupradas. E aí, as pessoas que desejam a vida daquele monte de células, dizem que essas mulheres devem morrer queimadas vivas, que são vagabundas e que engravidaram porque quiseram já que existem métodos anticoncepcionais (que não são 100% eficazes).




Quantas mulheres conhecemos que sofreram ou sofrem dessas violências? Quantas denunciaram? Quantas guardam em segredo suas dores?
Sei que não podemos fazer muita coisa por elas, mas podemos encorajar e discutir abertamente o assunto para não continuar sendo um tabu.
E principalmente, não devemos julgar nenhuma mulher pois ela não pediu pra apanhar, ela não colocou "aquela roupa" para ser estuprada, ela não queria ter seu bebê de qualquer jeito, ela não queria ser humilhada. Os agressores é que são cruéis, são a escória da humanidade e devem ser punidos. Palavras e atitudes machistas machucam. O machismo, MATA.

Abaixo dois vídeos fortes sobre o tema e que foram censurados na tv:



Vídeo muito triste com depoimentos de mulheres que sofreram durante o parto e durante cesarianas forçadas:

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