O Riso dos Outros

Hoje em dia se fala muito em humor negro, humor "politicamente incorreto", humor sem regras. Por trás de certas piadinhas inocentes existem processos, pessoas ofendidas e uma busca pela liberdade de expressão sem limites.

Mas será que a liberdade de expressão não implica responsabilidade e não deve ter consequências?

É justo um humorista dizer que mudo não deveria tentar falar, que mulheres feias deveriam agradecer quando são estupradas, que negros cheiram mal, que lugar de mulher é na cozinha? Isso é engraçado pra quem?

No próprio vídeo o humorista diz que quando a noite está ruim e ninguém no bar ri, é só fazer uma piada sobre a Preta Gil ou sobre um time de futebol ser composto de viados.

Como isso é considerado inovador? Como as pessoas acham que rindo disso estão sendo politicamente incorretas? Elas estão sendo politicamente corretas, estão sendo conservadoras, rindo de coisas que nossos avós riam, rindo de preconceitos da pré-história. Estão sendo como todo mundo, e as pessoas que discordam disso é que estão sendo, no caso, "rebeldes".

"A pessoa que quer contestar tudo isso, ela é colocada hoje em dia como alguém que é careta, enquanto que é realmente o contrário. A gente deveria pensar nessa inversão de sentidos em que foram aplicadas essas duas expressões, o politicamente correto e o politicamente incorreto.”

Não entendo quando as pessoas acham essas coisas engraçadas. Pra mim, isso é praticamente o bullying que todos querem combater.

E não adianta vir com a desculpa de que só existe humor quando você agride alguém de forma simplista. Tem muito humorista que pensa pra fazer uma boa piada. Críticas à empresas, ao governo, à imprensa. Aliás, esses mesmos humoristas que utilizam piadas batidas e insossas também fazem um humor ácido e inteligente. Por que então regredir e ofender de graça?

Como diz no vídeo, A pessoa ir passar a mão na bunda do guarda é engraçado, afinal, a pessoa está se arriscando. O guarda tem uma arma, um cassetete. Agora, passar a mão na bunda do mendigo? Chutar cachorro morto?

É engraçado que os humoristas querem agredir todo mundo sem serem criticados. Quando criticados dizem que é censura, que não existe liberdade de expressão. Ué, se eles não querem críticas, querem nos censurar, querem reprimir a nossa liberdade e a nossa opinião, não é?!

Quanto mais eles se explicam, mais incoerente ficam os argumentos.
E ainda dizem que não são formadores de opinião, que não transmitem valores, que não influenciam.
Mas fazendo essas piadas baixas com coisas sérias, consequentemente fazem essas coisas se tornarem banalizadas. Como no exemplo, o taxista que passou a mão na menina feia, que ao invés de ficar agradecida por ele ter feito isso, ficou braba.

"É SÓ UMA PIADA é o poder de maquiar um pensamento perigoso em algo inofensivo. Ainda se acha que negros, mulheres, deficientes e gays são inferiores, e o fato de não bater neles não é indício do fim desse preconceito. Então, como não se diz isso abertamente, extravasamos esse sentimento rindo de piadas. É fato universal que ideias influenciam, mas também posso fazer esse o jogo evasivo e perguntar "diga VOCÊ quais as evidências de que as piadas NÃO influenciam o comportamento."

Esse documentário é longo mas garanto que você não vai se arrepender de assistir. É impressionante a diferença de argumentação entre os "comediantes" e os "politicamente corretos".
Se você pensa como eu e acha que essa frase "É SÓ UMA PIADA" revela muito sobre a pessoa que contou e sobre quem consome esse tipo de humor, assista!