quinta-feira

Flor do Deserto - Machismo X Costumes culturais


Meu pai indicou esse filme esses dias. Ele sabe que adoro drama pois sempre são emocionantes e tem finais surpreendentes já que geralmente são baseados em fatos reais a realidade tem dois lados, o bom e o ruim.
Já aviso que tem spoiler. Se você quer assistir ou ler o livro sem saber de nada, não continue. :)

Esse filme é uma lição de superação e deve ser uma inspiração para todxs nós.
Waris Dirie, circuncidada aos 5 anos, foge ao descobrir que teria de se casar aos 13 e acaba se tornando uma Top Model de sucesso ao ser encontrada por um fotógrafo em uma lanchonete enquanto trabalhava de faxineira.
Em uma entrevista importante, quando a entrevistadora pergunta quando a vida dela mudou, ela começa a contar sobre o dia em que seu clitóris foi cortado no meio do deserto, sem nenhuma condição de higiene e sem escolha. Sobre como sofreu por dias, teve febre e foi mutilada por um costume inútil e surreal. Sobre como após sofrer essa violência, ainda teve que lutar contra o preconceito, contra o medo e como ainda luta até hoje contra essa cultura.
É sem dúvida a mais chocante história que já vi. É uma denúncia horripilante que dá uma revolta e uma sensação de impotência.
Waris hoje é embaixadora da ONU e dirige uma fundação que busca acabar com a circuncisão feminina na África

Como ainda hoje mulheres são torturadas assim? Como mulheres ainda são tratadas como seres inferiores que existem apenas para saciar os desejos dos homens?
Elas são circuncidadas pois a cultura diz que o clitóris é sujo e se uma mãe não fizer isso em sua filha, a menina deve ser jogada na rua e será prostituta.
No ritual, depois de retirado o clitóris com qualquer coisa (tesoura, lâminas, pedra lascada), a vagina é fechada por espinhos e depois de cicatrizada, o que demora dias pois a urina faz a ferida se abrir e algumas meninas morrem de dor e infecção, a vagina só será aberta pelo marido com uma navalha depois que ela casar.


Minha mãe que também ama drama foi lá em casa e começamos a assistir. Duas mulheres, assistindo algo que realmente acontece contra nós, contra o nosso corpo, contra as nossas vontades e que nos fazem sofrer.
E digo "nós" pois toda a forma de machismo machuca, destrói e mata.

Nós, brasileiras, não somos obrigadas a casar cedo com um velho rico. Mas somos ensinadas a nos manter sempre belas e perfeitas para encontrar um cara rico que nos banque, como se não fossemos capazes nem de nos sustentar.
Não somos obrigadas a andar de véu. Mas somos obrigadas a se vestir "decentemente" ou nossos corpos são "elogiados", julgados e tocados por qualquer um sem nosso consentimento.
Não temos nossos órgãos mutilados nem consideram eles inapropriados e sujos. Mas somos ensinadas a odiá-los e pagamos para que abram nossos corpos e insiram silicone. Ou pagamos para que abram nosso nariz para cortar, quebrar e torná-lo adequado.

Mulheres na África, mulheres no Brasil e mulheres de todo o mundo sofrem por causa do machismo. E é estranho ouvir mulheres e homens dizendo que não temos mais motivo para lutar quando todos os dias mulheres sofrem apenas por serem mulheres.


Faz pouco tempo que podemos trabalhar fora, que podemos estudar, dirigir e votar. Mas ainda assim as mulheres que deixam de trabalhar, são acusadas de abandonar os filhos. E por que o marido não larga o trabalho para cuidar deles, então?
Podemos estudar, mas nas faculdades (principalmente de exatas) mulheres são vítimas de preconceito e são tratadas como incapazes pelos professores.
Podemos dirigir, mas temos que aguentar piadas machistas retrógradas e se reclamamos ainda somos chamadas de mal-comidas e histéricas, xingamentos aliás, especialmente inventados para mulheres.
Podemos votar, "entrar" para a política. Mas nossa opinião não tem valor e a maioria dos cargos são ocupados por homens. Aliás, até mesmo se o assunto for banal, como futebol por exemplo, a opinião de uma mulher é ignorada por mais que seja certa.

Esse filme mostra apenas a ponta do iceberg. Mas já conseguimos enxergar o quanto somos seres maldosos e muito longe de sermos racionais. Todo dia mulheres apanham , são estupradas e mortas e ainda assim dizem que o machismo não existe. Existe sim, em todas as culturas. O que nos resta é lutar todos os dias, fazer nossa parte (um trabalho de formiguinha mesmo) e expor para as pessoas que ter uma vagina não é um defeito e que todos somos iguais.


É realmente uma das histórias mais emocionantes que já vi.
Espero ler também.

6 comentários:

  1. Gostei bastante do seu texto.
    Já vi o filme e é realmente chocante. E isso realmente acontece em outros aspectos nas nossas vidas, como você mesma falou. Isso é importante saber também, que o problema está em todo lugar.
    Acho muito bonita a história dela.

    Mari
    http://cxdamari.blogspot.com.br/

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    1. Que bom que você gostou.
      A história dela é muito comovente. Infelizmente o machismo está enraizado no mundo inteiro.
      Resta a nós mulheres, lutar e deixar de julgar umas as outras.
      Pouco a pouco isso pode mudar.
      Beijos.

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  2. Vou ver e vou ler o livro. Concordo com cada palavra que disse. Toda forma de injustiça é feita com todos, mesmo que não percebamos!

    Beijos
    Pâmela Rodrigues
    Blog: Liste & Realize
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    1. Exatamente .. umas tem seu clitóris cortado. Outras se cortam pois dela cobram a perfeição.

      Beijos.

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  3. Amei o seu texto. Sabe, eu frequentemente entro em conflito com os meus pais por não concordar com eles em vários pontos. Minha mãe é submissa, dependente. Não, ela não apanha nem nada disso. Mas são em pequenos gestos que a eu noto que ela mesma não se iguala a ele e acha que está tudo bem. Eu que dou uma de "revoltadinha", preguiçosa e ingrata.

    Enfim, ainda tem muito machismo nessa nossa sociedade que acha coisas como cortar o clítoris um absurdo, mas que comete "pequenos" atos que mostram que ainda assim está na cabeça de quase todos (mesmo que não se fale) que se você tem uma vagina, você é inferior. E ainda tem que ter muita luta para acabar com isso.

    pequenaaventureira.blogspot.com.br

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    1. Gostei muito do seu comentário. E nunca desista das suas "revoltinhas", nunca!
      É falando e mostrando que as pessoas saem da zona de conforto e começam a enxergar fora da caixinha.
      Onde você olha, as conversas que você escuta, os filmes .. a maioria das coisas estão repletas de machismo, infelizmente. Mas não podemos deixar de lutar nunca. Como eu disse, é um trabalho de formiguinha.

      Beijos!

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